domingo, 24 de fevereiro de 2008

Natália

Vem cá, minha linda morena Natália.
Quem te disse que você me atrapalha?
Adoro quando você arrasta a sandália,
dentro de um vestido de fina malha.
Seu corpo de belas curvas entalha
formas insinuantes sob veste de malha.
Meu desejo por ti não é fogo-de-palha.
Deixa disso, larga logo essa rocalha.
Vem cá, senta no meu colo, se espalha.
Além da morena, há nada que mais valha.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

À espera de Vera

Para a minha vida viera
a bela flor da primavera.
Mulher mais bonita da era.
Lembranças de doce paquera.
Em uma sensual atmosfera,
nossos encontros na tapera.
Minha alma tem uma cratera
desde sua partida, Vera.
Voltar o tempo, quem dera,
minha inesquecível quimera

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Mudança

Se o antigo se perdesse
e o novo nada valesse,
caótico seria o mundo
a sumir em um segundo.
Preste atenção, menina,
pois a vida determina,
com qualquer vitória,
o rumo da sua história.
Não pode passar o tempo,
nem mais voltar o tempo.
Sonhos ainda estão lá,
então os traga para cá.
Estará tudo no lugar,
esperando você mudar.
Nós vacilamos, eu sei.
Use a coragem que dei.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nenhum amor ordinário

Era a noite de folga dos casados. As esposas fariam a noite das garotas e deixariam os maridos relaxarem em paz. Eu não sou casado. Pelo menos penso que não sou. Ou sou? Coralina não tem alma de esposa. Tem alma de cúmplice, minha doce e tenra cúmplice. E até aquela noite, ainda não conhecia Coralina. Júlio, Marcelo, Carlos, Luiz e eu costumávamos sair nas noites de quinta-feira, era o nosso pacto. Sempre que um de nós casava, a reafirmação do nosso tratado era exigida. O nosso rito não poderia ser quebrado, sob pena da maldição do pau-ir-a-pique. Nossa fraternidade começou ainda na faculdade. E mulher nenhuma teria o direito de interferir. Pois antes de todas elas, nós já éramos amigos e saíamos sempre nas noites de quinta-feira. Mas não tem jeito. Tem sempre aquela que não consegue ter vida própria e precisa atrapalhar a individualidade do marido. Mulher tem de entender que casar não significa viver em função dela e dos filhos. Nem creio que ela tenha de viver em função do homem e dos filhos. Enfim, uma noite sem celulares. Nada de ouvir a célebre pergunta "a que horas chegará em casa", ou sua variação "ainda vai demorar". Os rapazes até aprenderam a manter a calma na primeira ligação. Já na segunda... Ah... A segunda ligação! Esta era fatal para a noite. O respectivo marido levanta-se bufando, despedia-se dos amigos e seguia o caminho pisando duro. Os que ficavam encolhiam os ombros. Faziam qualquer comentário sobre a pegação de pé. Os Ficavam sem graça. E a noite perdia a graça. Logo outras ligações haviam de acontecer. E todos partiam em direção aos seus lares doce lares, ou não tão doces assim. Marido a marido. Restava sempre eu. O solteiro de trinta e uns anos. Lance mais chato para um solteiro. O último solteiro da turma. Todos os meus amigos casaram. Eu não queria casar. Pelo menos não àquela altura da vida. E será que já estou? O fato era esperar pela pessoa certa e eu acredito que ela chegou naquela noite especial. Nada dos botecos de sempre. Noite ímpar merecia evento ímpar. Então fomos a uma casa noturna daquelas animadinhas. Ficava no outro lado da cidade. Ver umas meninas dançando em trajes mínimos seria legal. E quem sabe desfilando de peitinhos de fora? Logo que entrei a vi. Um palco pequeno. Esquisito mesmo. Mas ela de certa forma brilhava. Cantava com sentimentalismo extremo. Bem à moda Piaf. I gave you all the love I got. Parecia trazer o coração na boca e nos olhos. A canção de já alguns anos de idade soava como nova para mim. I gave you more than I could give. Esqueci-me dos amigos. Sentei-me na mesa da frente. Estava vazia. Reparei que havia homens no recinto, com risos e mulheres esfregando-se em seus colos. Copos em suas mãos. Eu sentia ela. I gave you love. Moça de cabelos longos. Olhos grandes. I gave you all that I have inside. Boca que quer beijo. Um dos rostos mais bonitos que eu vi. Corpo que queria cuidar. Voz meiga que queria ouvir. And you took my love. Ainda consegui manter certa dignidade naquela espelunca. Beleza crua em um vestido que mal a vestia. Encantadora. You took my love. Chorava em sua canção por um amor que não era comum. Quis cuidar dela. Ao fim do show dei um jeito de ludibriar o leão de chácaras que impedia a entrada dos mais animados. Provoquei dois bêbados. Fiz com que pensassem que falavam um do outro. Aí quando a confusão estava armada e o tal armário tentava restabelecer a ordem do lugar, esgueirei-me pelo corredor a fora. Cheguei a uma porta que poderia ser um camarim. Cruzei os dedos. Que ela estivesse sozinha, desejei. Abri. Ela olhou-me desconfiada, mas nada disse. Aproximei-me. Perguntei se ela não queria tomar um café longe dali. Riu. Você é maluco? Não vai aceitar o meu convite? Café? Café! Só café, hein! Só café. Tá bom. Vamos. Ia quebrar a promessa? E correr o risco da maldição do pau-ir-a-pique? Calma aí?! Logo eu que nem casado era! Pedi para que a princesa esperasse uns minutinhos. Sentei na mesa com os rapazes. Fiz um social. Pedi um uísque que naquele lugar seria certamente falsificado. Minutos depois aleguei não passar bem. Pedi licença e fui-me com a gata, que a esta hora já esperáva-me no carro, conforme o combinado. Longe dali descobri Coralina. Seu nome tinha sido dado por sua mãe solteira. Era homenagem a poetiza. Sua mãe morreu um dia depois do parto. Fora deixada com a tia. Uma pobre alma com muitos filhos e fome. Muita fome. Aos cinco anos fora entregue a uma mulher que prometeu cuidar dela. Mas em lugar disso, a explorou. Quando pôde, correu para mundo que era melhor do que aquela vida mais ou menos. Passou, frio, fome até achar para quem trabalhar. Gostava de cantar e se tornou cantora naquele lugar. Coralina. Quis levá-la para casa. Nada aconteceu naquela noite. Acordei feliz com sua presença sonolenta. Pedi que não fosse embora. Iria trabalhar, mas a noitinha estaria de volta. Ela riu. Disse que também tinha de trabalhar. E ela se foi, porém não sem antes ter ouvido o meu pedido e prometido que voltaria mais tarde. Ela voltou. Então a tive em meus braços. E em muitas outras noites ela voltou. As noites de quinta continuavam reservadas para os amigos. Mas quando ela voltava, eu já estava esperando por ela, que despertava-me pelo paladar, provocava-me com sons. Acendia-me pelo olhar. Enlouquecia-me pelo toque. Com o seu jeito moleca, a encontrei um dia apenas de short e tênis, sentada sobre as pernas e arrumando minhas coisas em uma caixa. Não resisti. Quer casar comigo?

Carnaval


Ilustrado por Cláudio de Sena

Hoje é mais um dia de carnaval.
Ismênia, mulata de corpo colossal,
sambará à tarde na praça-central.
Sua calcinha prata seca no varal.
Vai usá-la em mais um dia venial.
Exígua calcinha prata seinodal,
no corpo da mulata é o principal
em sua fantasia mais que celestial.
Parece uma foto de cartão-postal
ver a calcinha prata secar no varal.