quarta-feira, 14 de abril de 2010
Esperança
Fazia tempo que não sentia aquele cheiro invadindo minhas narinas, que ficava mais forte quando o vento batia em minha direção. Quando ficou mais forte, minha curiosidade foi aguçada. Virei-me em direção ao perfurme exalado. Poc. Foi como se tivesse batido em uma parede de vidro. Invisível. Duro. Inquebrável. Tamanho foi o golpe, que senti gelar o meu corpo. Aquele arrepio que percorre do dedão do pé até o último fio de cabelo. Era ela. Não a via havia anos. Três anos quem sabe. Nem eu sabia. Preferi ignorar o fato que ela tinha partido da minha vida com avisos prévios. Com muitos avisos prévios, é verdade. Avisos que preferi não compreender. Avisos que preferi entender como devaneios. Bobagens. Afinal, que diferença ela faria à minha vida? Uma pessoinha qualquer informava ser subestimada. Haha. Subestimada sim. E por que estimar? Ela estava ali, a qualquer hora. Eu sabia dela sempre. Ela contava de si sem que eu perguntasse. Ela queria que eu participasse de sua. Ela falava coisas das quais eu não achava a menor graça. Ela envia mensagens de pouco sentido. Eu preferia as outras. Mas todas as vezes que as outras me deixavam, ela estava lá. Disposta. Que diferença fazia a minha vida? Quase nenhuma. Ela tinha alguns bom-gostos. Digo alguns, porque desconheço todos. Só sei de alguns. E precisava de outros?! Claro que não. Só o que me interessava e na hora que me interessava. E um dia ela sumiu. Passei a não saber mais dela. Nenhuma notícia. Ah, que bom! Ela me enchia o saco. E quando as outras me deixaram?! É, eu senti falta dela sim. Daquele perfume que impregnava minha sala. Daquele beijo que aquecia meu corpo. Daquele toque que causava calafrio. Volúpia. Agora ela acabou de passar por mim. Um vulto azul. Nem olhou para mim. Passou andando rápido. E eu fiquei aqui parado. Olhando se afastar extasiado. Sobre um belo salto. Meia-calça. Vestido alinhado. Jaqueta azul. Com ela combinou tão bem... Em passos rápidos. Ela nem me viu. Se tivesse visto, é claro, tinha parado para dar-me atenção. Será? Será que ela não me viu? Passou quase rente a mim?! Me viu sim. E por que não quis falar comigo?! Ainda a vejo. Está falando com algumas pessoas. Parece ser o centro das atenções. Linda. Linda. E aí? Devo ir lá e falar com ela? Devo dizer o que a ela? Saber por que ela sumiu? E será que ela quer falar comigo? Quantos anos... Se quisesse teria procurado, mas deixo que os dias passassem sem suas notícias. Dia-após-dia. Um aperto. Uma dúvida. Vou lá, ou não? Ai, meu Deus! Ela olhou para mim agora. Ela está olhando sim!!! Ela viu!!! Não tinha visto antes... Virá aqui. Nós vamos conversar. Eu vou dizer que quero sexo. Sempre muito direto. Ela vai ceder. E tudo será como antes. Eu só tenho que ficar aqui e esperar... Já se passaram 20 minutos. Tudo bem, está conversando com as outras pessoas. Opa. Entraram. E ela nem veio aqui cumprimentar-me? Que estranho. Vou até lá. Acho que é imaginação minha, mas a cada passo sinto o perfume mais forte. Está logo ali. "Oi"! Ela parou de conversar com os outros e virou-se para mim, sem nenhuma surpresa. Afastou-se do grupo. "Oi". Cadê o sorriso?! "Tudo bem"?!. "Sim e você?". Esperava que fosse me abraçar. Olhava-me nos olhos. Respirava cadenciadamente. Eu ofegante. Nervoso. Ela imóvel. Esperava que fosse ficar feliz em ver-me. Ela já tinha me visto. Ignorou-me. "O que faz por aqui"? "Por que quer saber"? Ai e agora? "Função fática". "E por que"? "Você sumiu e estou tentando reaproximar-me. Senti sua falta". "Não, você não sentiu". "Claro que senti". "Sei". "Não acredita. Mas pode acreditar. Que motivo teria para mentir"? "O mesmo pelo qual ligava". "Não. Na verdade eu preciso muito dizer algumas coisas a você. Inclusive desculpa". "Hummm. Desculpa aceita, mas agora é tarde". "Nunca é tarde". "Você está atrasado três anos". "É eu sei, mas não precisa ficar jogando isto na minha cara". "Não tenho esta intenção. Eu preciso voltar para os meus amigos, se me dá licença. Tchau Tchau".
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