sábado, 3 de maio de 2008
Cena de cinema
“Nina sou eu. Você deve ser Beto. Sou irmã de Pedro. Ele pediu para entregar isso a você”. (Estende o fino envelope pardo, ele o pega.) “Ele disse que eu deveria levar um embrulho. Não me disse o que era exatamente. Só falou em um pacote. Disse que você saberia do que eu estou falando. Engraçado isso porque eu não sei do que estou falando. Um envelope que não parece ter dinheiro dentro. Na verdade parece ter nada dentro de tão fino. Devo levar algo bem maior. E então, cadê o pacote do Pedro?” (Vai até o quarto. Volta com um pacote embrulhado com jornal) “Uma troca de encomendas. Música bacana que está tocando. Bacana mesmo. Quem é? Ahn? Morrissey? Nunca ouvi falar! The Smiths? Tem um filme com este nome, não é? Eles até casaram depois na vida real. Qual é o nome deles mesmo? Sim, o Pedro prometeu-me uns trocados se eu fizesse este favor. E você o que vai dar-me em troca?”. O beijo foi bom, não foi? E mais ainda tudo que seguiu. A garota bonita. Cuidava da sua casa e de você também. Fazia o seu jantar. Esperava por você. Massageava os seus pés. Tratava os seus calos. Você está surpreso pelo quê? Já deveria saber que este é o final para uma história sem papel principal. Desse mais valor. A estrela de seu filme queria reconhecimento. Demonstrações de importância fazem a diferença para uma mulher. Ei, esta não é aquela parte em que a mocinha vai embora? Tira tudo do armário, joga sobre a cama. Chora, descabela-se por minutos. As lágrimas secam no rosto borrado. Ela costumava usar olhos pintados. Há uma rota que segue dos olhos às faces, ao queixo. Roupas direto para a sacola. Emboladas umas às outras. Ficam sós os cabides no armário. Soca tudo no porta-malas. Chora ainda. Entra no carro. Dá a partida. Olha para a casa pela última vez. Pega a estrada. Para na encruzilhada. "Qual o lugar em que você não me encontrará? Talvez nem mesmo me procure". Chora mais um pouco. Decide-se. Escolhe o caminho da esquerda. Um outro carro toma o caminho da direita. E vai para algum lugar longe, longe para você, herói. Sem aviso prévio, nem bilhete, nem pista de onde vai estar. Nada nada para trás. Ele chega à casa e descobre que a mocinha pegou suas coisas e foi embora. Só os cabides ficaram pendurados. Os mesmo cabides que você entregou a ela quando foi morar em sua casa. Um doce convite seu, "eu quero você aqui em todos os dias". Na próxima vez pense melhor sobre o que é deixar a emoção ficar do lado de fora da porta. Dizer que amou dois meses depois já nada vale. Eu queria ter dito tudo no momento em que estava ocorrendo, mas você não estava aqui para ouvir. A validade expirou para quem jamais inspirou. O herói sai da casa, corre até o carro. Entra apressado. Liga o carro. Encosta a cabeça sobre o volante. Sussurra a pergunta "por quê". Sai em arrancada. Tenta achar a rota de fuga da mocinha. Apanha o maço de cigarros sobre o painel do carro. Alguns cigarros caem. Um fica entre os dedos. Não acende. Está nervoso. Mantém-no apagado. Pára na encruzilhada. Sai do carro, o motor ainda está ligado. Vai em direção ao caminho da esquerda. Abaixa-se. Vê as marcas de pneu na área fina do caminho. São recentes. Levanta-se, vai em direção ao caminho da direita. Abaixa-se. Vê as marcas de pneu. São mais recentes. Aprendeu com um índio, seu amigo, a ler pegadas, marcas de pneu e o que mais pudesse indicar pistas. Entra no carro. Vira à direita.
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Um comentário:
Ai Gzuis,vira à direita e vai pra onde? Hehehehe, texto bom, quero o final, rs...
Bjão!
FUIZ...
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