O encontro
Pedro Abelardo prefiria ser chamado de Pedro, mas quase todos o conheciam por Abelardo. Minutos antes de começar mais uma aula, estava conversando com alguns de seus alunos em mais um embate de idéias. Foi interrompido pela entrada de uma nova aluna. Daí em diante já não conseguia ouvir direito o que seus alunos diziam. Procurava olhar disfarçadamente para a aluna, até ficar desconcertado quando seu olhar encontrou o dela. Ela desviou os olhas rapidamente. Ele olhou o relógio e imediatamente pediu aos seus alunos sentarem-se. Iria iniciar a aula.
— Em seus lugares. Por favor, sentem-se. — A voz suave e grave, gesticulava um pouco, sinalizando pedido de silêncio.
Os alunos ficaram em silêncio. Sentia-se quase nervoso. Achou tudo muito estranho. Diferente do habitual, iniciou a aula pela chamada. Queria saber o nome da nova aluna. Optou por ler o nome e o último sobrenome. Obteria a certeza do nome da bela moça que entrara e sentara-se na primeira cadeira da segunda fileira do seu lado esquerdo. Podia sentir o seu perfume, bastante atraente ao seu olfato. Ateve-se a fisionomia de cada aluno desta vez. Assim, poderia olhar para ela sem levantar suspeitas. Seu nome é Heloísa.
— Ok, vamos falar hoje de Kong Fu Tseu, sem dúvida uma das maiores personalidades da China. O pensador chinês é também conhecido como Confúcio. Não fundou religião alguma, apenas externou conceitos de moral e sabedoria que até hoje constituem verdadeiros ensinamentos. — A visão de Heloísa o distraía um pouco. Perdeu-se em alguns momentos na linha do raciocínio. Então decidiu evitar olhar em sua direção. A aula foi agitada. Os alunos perguntaram e opinaram. Heloísa também contou sua opinião. Abelardo demonstrou entusiamo ao ouvir sua voz. Procurou disfarçar. — Espero que ninguém tenha notado — pensou. Ao fim da aula, Heloísa foi falar com ele.
— Abelardo?
— Pedro, por favor.
— Mas todos os chamam de Abelardo.
— É, eu sei, e não entendo. Pedro é tão mais fácil. Menos letras a pronunciar.
— Deve ser por implicância - Heloísa riu.
Pedro também achou graça. Mais do que deveria. O seu sorriso era perfeito. A boca e os dentes poderiam estampar qualquer caixa de creme dental. Então ela continuou.
— Pedro, você admira muito Confúncio, não é?
— Sim, admiro.
— Por quê?
Pedro franziu a testa. Não esperava a pergunta à queima-roupa. Soma-se o fato de que ele estava encantado. Gaguejou.
— Ainda na infância, quando indagado pela sua dedicação aos estudos, respondeu: "Assusta-me a última parte da vida. Aquele que chega aos quarenta ou aos cinqüenta anos sem nada ter aprendido não se encontra em aterradora situação? Eu sei que, para estudar, o futuro não vale tanto quanto o presente". Tão cedo aprendeu a refletir. Deste ato advém minha admiração por Confúcio.
— Entendi — respondeu Heloísa, acenando a cabeça com suavidade. — Tudo isto é muito novo para mim. Pode indicar-me algum livro.
Sem pensar, Abelardo virou-se à mesa, apanhou um livro pequeno, fino e branco. Na capa estava escrito "Confúcio Vida e Doutrina". Voltou-se a Heloísa oferecendo o livro.
— Leve este. Acho que vai gostar. — havia um leve sorriso em seus lábios que não conseguia disfarçar.
— Obrigada. — Passou a mão pelos longos cabelos castanhos, parecia animada. — Bem... Então isso é tudo. Gostei muito da minha primeira aula de filosofia.
— Que bom, fico feliz.
— Preciso ir agora. Obrigada. — Esticou-se um pouco e deu um beijo no rosto de Abelardo, ou melhor, Pedro. Para ela, seria Pedro apenas.
sábado, 26 de dezembro de 2009
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